sábado, 9 de julho de 2011

O pessimismo aplicado ao cotidiano

Quando falamos em pessimismo, imaginamos aquela pessoa idosa que reclama da vida o tempo todo e que responde a todas as perguntas com aquele seco “tanto faz” ou aquele ser que acha que tudo vai dar errado antes de tentar.


O primeiro caso, na verdade, trata-se de uma pessoa que descobriu a realidade da vida, que sabe que ela é uma breve passagem. Essa pessoa já percebeu que tudo que ela esperava da vida não aconteceu e jamais acontecerá, com ninguém. Como escreveu o grande Arthur Schopenhauer: “conhecemos a vida primeiro pela poesia e depois pela realidade”. O gênio também escreveu: “para o jovem o verdadeiro mundo é encoberto ou destorcido por uma ilusão, composta de caprichos pessoais, preconceitos herdados e fantasias estranhas”. Os caprichos pessoais são totalmente varridos pela vida, que por mais que seja boa, acaba com qualquer sonho de perfeição que sempre temos quando jovens. Será hipócrita quem disser que, quando tinha seus 12 ou 13 anos, não imaginava aquela história da novela, do filme, como sua própria vida; aí estão as fantasias estranhas, das quais Schopenhauer nos fala. Os preconceitos herdados são aqueles que consideraram o realista, um pessimista que quer que você se dê mal. Quando o pai aconselha o filho a não confiar em ninguém, a não emprestar um brinquedo, o filho pensa que o pai está sendo um pessimista, mas na verdade ele é simplesmente realista.

Voltando ao início, o primeiro caso está explicitado; aquela pessoa idosa mal humorada tem esse comportamento por saber que tudo é quimérico. Aqui também entra o pensamento do poeta russo, Anwari Soheili: “Se perderes a posse de um mundo, não sofras, não é nada; se conquistares a posse de um mundo, não te alegres, não é nada. Passam as dores, passam os contentamentos, passas tu ao largo do mundo, não é nada”. Nessa frase está o resumo de tudo, apesar de a base da teoria ser o pensamento schopenhauriano.

A vida é totalmente decepcionante, se esperarmos qualquer coisa dela. Até mesmo para quem espera muito pouco, ela o será, porque esse quase nada que é esperado, dificilmente virá. E mesmo que ele venha, não saciará a maldita sensação de satisfação. Sigo me embasando no gênio: “erra muito menos quem, com olhar sombrio, considera esse mundo como uma espécie de inferno e, portanto, só se preocupa em conseguir um recanto à prova de fogo.”

Ele nos disse: “Todo prazer é apenas a cessação de uma necessidade”. Que prazer é esse que tanto buscamos? Se ele tem como único intuito cessar uma necessidade, não deveríamos objetivar a não necessidade? Eis o paradoxo da teoria; prazer é acabar com a necessidade? Necessidade de ter prazer? Eles são totalmente dependentes um do outro.

O segundo caso, citado no início, da pessoa que acha que tudo sempre vai dar errado, é o pessimismo no qual me encaixo no momento. Aquele que busca o não sofrimento, que não espera nada da vida, que já sabe que a dor é real, mas o prazer é falso, desprezível, breve e decepcionante. Aqui entra a máxima de Voltaire: “A felicidade é apenas um sonho, a dor, sim, é real”. Schopenhauer nos explica e legitima esse pensamento: “quando nosso corpo inteiro se encontra saudável e intacto, mas apresenta uma pequena parte sofrida ou dolorida, então a consciência deixa de perceber a saúde geral para dirigir sua atenção constantemente para a dor da parte ferida e a sensação de bem-estar é anulada por completo”. Nesse caso, está comprovado.

Alguém quando machuca um dedinho da mão fica dando graças a Deus por ter outros dezenove dedos sem dor? Não. A realidade é o dedo doendo. Assim como quando temos vários objetivos e sonhos para a nossa vida. Vamos supor que seu desejo de juventude for ter sempre muitos amigos, trabalhar com o que se identifica, ser reconhecido profissionalmente, pegar todas (os) as (os) mulheres (homens) que quiser ou encontrar uma (um) boa (bom) mãe (pai) para seus filhos, manter contato com seus pais, ter dinheiro para comprar tudo que desejar; casa própria no bairro tão sonhado, o carro do ano, roupas boas. Se com 40 anos, você tiver tudo isso, menos um item, você vai passar mais tempo pensando em tudo que tem ou naquele único que não tem? Não seja hipócrita. A consciência dirigirá sua atenção para aquilo que não você não tem. Somente isso será real e o restante, que deveria te fazer feliz, será ilusão.


Apesar de me considerar um pessimista, agora que já está explicado o tipo de pessimismo, acho que sou feliz, exatamente por não viver pensando em ser.

O importante é viver, viver, viver.

E nunca me pergunte: “Qual são seus planos para o futuro?” Aliás, não pergunte isso a ninguém, uma vez que o futuro de uma pessoa nunca será conforme planejado e esse plano, essa vontade de escolher, esse desespero por decidir, esse anseio por querer ser senhor do próprio destino são as maiores tolices que um ser humano pode cometer e as únicas causas da recorrente tristeza.


A vida não é decepcionante?