terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Helder, o homem adorado por todos


Helder da Silva Moura, paulistano, 24 anos, é sub-gerente da Livraria Saraiva do Barra Shopping Sul, em Porto Alegre. Antes de ser promovido, há um ano, brincava e conversava com todos e era o primeiro a fazer amizade com os colegas novos. Agora segue sendo querido, apesar da obrigação de ser enérgico na coordenação dos trinta e três funcionários.
Ele é o homem de confiança da gerente e conta com a simpatia da supervisora. Nem mesmo Nei, lateral campeão da Libertadores pelo Internacional, resistiu ao carisma dele.
Desde o dia em que o jogador recebeu o primeiro atendimento de Helder, os dois tornaram-se grandes amigos e, pouco tempo depois, confidentes.
Muitos já ouviram as sábias dicas amorosas do chefe e frequentemente o elogiam nas redes sociais. “O Helder é o melhor conselheiro”, disse a funcionária Kamila Carvalho, certa vez, em um site de relacionamentos. Ao escolher a pessoa mais confiável dentre todos seus contatos, Kamila Moura também optou pelo paulista.
Leva nos braços a tatuagem dos autógrafos do guitarrista Dean DeLeo e do baixista Robert DeLeo, integrantes da banda Stone Temple Pilots, que é sua favorita. Corintiano fanático, está extremamente contente com os resultados de 2012; seu time campeão da América e o rival, Palmeiras, rebaixado à segunda divisão.

Agradando sem esforço

Helder jamais perde a oportunidade de fazer piada com alguém, está sempre atento para ser o primeiro a vaiar os erros de português, as gagueiras e os escorregões, mesmo sabendo que isso pode ofender. Ontem, Pedro Gomes falhou na pronúncia do nome de um filme e foi corrigido sem piedade. Minutos depois, os dois riam da situação.
Não há reclamações do chefe, apesar de sua “chatice”, somente uma grande vontade de auxiliá-lo, para que siga no cargo. O talento de liderar de forma natural, a despreocupação em agradar e a permanente ironia são os motivos que o tornam tão especial. Ele reage de forma humilde e tranquila aos elogios, sem deixar de ser o piadista, crítico implacável e grande parceiro de sempre. Todos adoram.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Eu sinto

Dê um play para que a leitura flua de forma mais natural.


Eu vivo em constante exercício de auto-conhecimento. Para isso, preciso refletir muito, conhecer muitas coisas, ter experiências novas para saber como vou reagir diante delas e ficar sozinho por bastante tempo. Eu sinto quando as pessoas que eu gosto estão tristes, sem que elas falem. Certa vez, um grande amigo meu voltou calado da sala de aula e eu identifiquei o abalo dele antes mesmo que eu soubesse do problema que ele enfrentara na aula.
Prefiro estar por baixo a estar por cima. Sinto-me mais feliz e mais humano quando sou o único a não saber algo do que quando sou o único a saber. A sensação do “não sei” é fantástica, pois ela abre portas e nos possibilita ir adiante para que possamos evoluir. Quem sabe tudo já pode morrer, visto que não precisa conhecer mais nada, ou seja, não necessita mais viver. Eu sempre observo a grande batalha que as pessoas travam pelo poder e me entristeço, porque sei que quando elas alcançarem o objetivo perceberão que “aquilo” não traz a felicidade esperada. Mais uma vez a recorrente decepção, a “personagem” principal da vida.
Quero chegar à velhice com um conhecimento enorme sobre a vida, sobre mim mesmo e, especialmente, sobre as pessoas em geral. Por mais que esse pensamento vá totalmente contra a profissão que quero seguir, eu realmente acho que um ser humano pode, sim, ser extremamente feliz sem saber o nome do presidente do seu país e sem saber escrever nem ler. O importante para a verdadeira satisfação é saber “escutar“ o próprio coração e conseguir manter uma relação sadia com as pessoas a sua volta, ouvindo-as e prestando atenção nas suas opiniões e anseios.
Teorias políticas, debates esportivos, programas de entretenimento e filmes que não fazem pensar tiram o foco daquilo que deveria ser a obsessão do ser humano; seu próprio eu, suas emoções e suas angústias. Uma conversa olho no olho com um amigo de infância vale mais que mil “conversas” através do facebook.
Por que eu vou para casa? Por que eu trabalho? Por que eu compro CDs e DVDs? Por que eu bebo aos finais de semana? Por que eu vou ao Laika ou ao Beco? Por que eu gosto de futebol? Por que eu escuto The Doors, Beatles e Raul Seixas há tanto tempo e nunca enjoo? Pergunto-me sobre mim mesmo o tempo todo.
Por que eu dizia que odiava samba e agora estou exageradamente fã do Jorge Ben? “Balança, Pema. Balança sem parar. Arrasta as sandálias. Arrasta até gastar”. Que ligação essa frase tem comigo? Nunca sambei, nunca arrastei as sandálias. Aliás, nunca cheguei sequer a usá-las. Será um desejo oprimido, de morar no Rio de Janeiro e ir para a Lapa sambar em vez de sair para escutar The Stooges, AC/DC e Sex Pistols no Laika?
Por que eu gosto tanto da França? A seleção da Copa do Mundo de 1998 era simpática, mas esse não é um bom motivo, uma vez que futebol é um simples entretenimento na minha vida e definitivamente não influencia na minha personalidade. Ainda não concluí, mas acredito que seja pelo meu fascínio pela revolução francesa, por todo o histórico de greves dos trabalhadores do país, do Maio de 68 e, finalmente, pela França ter sido berço do movimento cinematográfico que mais me encanta; a Nouvelle Vague.
O cinema, sim, altera de forma arrebatadora minha mente. A vontade que tinham os realizadores Jean-Luc Godard e François Truffaut, os mentores da Nouvelle Vague, de fazer um cinema diferente de Hollywood, com trilha sonora menos dramática e mais provocativa, com atrizes nem sempre arrumadas e heróis um tanto quanto confusos, não com a personalidade previsível no padrão norteamericano pós-guerra. Era a França demonstrando ser um país com personalidade. Após ser devastada pelos nazistas, tentava fugir das determinações do único verdadeiro vencedor da Segunda Guerra.
Por que me mudei de Cachoeira do Sul, se sou tão apegado aos meus pais? Talvez seja para me sentir, de forma mais intensa, fazendo “parte da história do mundo”, uma vez que ocorreram mais fatos importantes para a humanidade em Porto Alegre do que na minha querida cidade natal. A tentativa de tentar entender o porquê de todas as minhas paixões e preferências é uma das formas menos falíveis de atingir meu tão sonhado auto-conhecimento. Esse sonho faz parte do projeto de vida de um cara extraordinariamente sensível, que prefere sentir a pensar.
Meu coração está dizendo que Taj Mahal é a trilha perfeita para ler ou escrever esse texto. O novo desafio é compreender por que. É exatamente dessa forma que eu vivo. Estou sempre atento aos meus sentimentos e depois tento entendê-los.

Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Taj Mahal...

Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
               Taj Mahal...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Se o amor existisse

Primeira Possibilidade (Ele & Ela)

Ele a conheceu.
Ela o conheceu.
Ela até simpatizou com ele.
Ele a achou linda.
Ele tinha medo de tanta beleza.
Ela agia naturalmente.
Ele a queria.
Ela queria um rockstar.
Ele a convidou para sair depois de pensar mil vezes.
Ela nem precisou pensar antes de não aceitar.
Ele tinha pés no chão.
Ela era incrivelmente indecisa.
Ele é inseguro.
Ela, misteriosa e espontânea.
Ele disse te quero.
Ela não disse nada.
Ele pediu desculpas por ter sido homem.
Ela aceitou as desculpas.
Ela significava muito para ele.
Ele era somente mais um amigo dela.
Agora, Ele não diz mais nada.
Ela não move os lábios, mas segue dizendo “não” através dos seus olhos, que, segundo Ele, são os mais lindos do mundo.

Segunda Possibilidade

Quando Ele desperta pela manhã, antes de pensar que gostaria que Ela estivesse acordando ao lado dele, tenta imaginar como Ela passou a noite, se esteve bem aquecida e confortável durante  seu sono.
Enquanto Ele se arruma para sair pela manhã, além de querer encontrá-la, pergunta-se se o café dela está quente naquele momento.
Durante a viagem, no ônibus, angustia-se ao pensar que talvez Ela ainda esteja esperando na parada, há quilômetros dali, passando frio enquanto seus lindos cabelos longos são levados de um lado para o outro pelo vento.
Ele vê várias pessoas bonitas, mas nenhuma com o estilo, com a magia e com o brilho que se juntam à beleza dela, transformando-a em uma mulher insuperável.
Na hora do almoço, a mente dele ainda não esquece que está longe dela, pois a cada garfada que Ele leva à boca, torce para que Ela também esteja se alimentando bem e, dessa forma, Ela segue “presente” o tempo todo de forma emocionante no dia dele.
Segue o dia e a dúvida de onde Ela está naquele momento incomoda Ele profundamente.
Ela está ali ao lado dele pensando que está vendo Ele pela primeira vez no dia, mas Ela nem sequer imagina que acompanhou Ele desde o primeiro suspiro dele pela manhã.
Ele diz “boa noite”, mas não ouve resposta.
Ela não está lá.
O desespero de alguns segundos é substituído pela eterna angústia de saber se ela está bem.

Terceira possibilidade

Essa última possibilidade talvez pareça estranha, mas é a mais aceitável e compreensível.
Aqui, eles não se conhecem.
O belo rosto dela não existe. É simplesmente tudo que ele espera da vida. Mas como já discutimos aqui, a vida é decepcionante, logo, “tudo que ele espera da vida” nunca vai acontecer. Finalmente, concluímos que se ela é tudo que ele espera da vida e que isso nunca vai acontecer, ela não existe, uma vez que aquilo que nunca vai acontecer não existe nem nunca vai existir.
Ela é a imagem que ele criou de uma pessoa que preenche todas as faltas dele, mas a relação dos sonhos nunca foi vivida por ninguém.
Ele fica sentado na frente da casa pensando nela.
Ele vê uma esperança e pensa em todas as palavras que poderia ter dito para ela na primeira vez que ficou com vontade de tocar no rosto dela.
Ele vive pensando.
Ela vive.
Questionável é a atitude contraditória dele, de ter preenchido através de uma rede social os dados de cadastramento na lista de trouxas, não à mão, como ele tanto defende que todos façam.
Depois de tantas possibilidades levantadas, chegamos à mesma  triste e dura, mas óbvia, conclusão; o amor não existe. Claro que ele se manifesta perigosamente belo nos livros, nas músicas, nos filmes  e nas mentes fracas, que acabam sendo facilmente enganadas por uma patética esperança de “felicidade” e satisfação física e espiritual.
Eis mais um argumento poderoso na grande discussão sobre esse sentimento que só existe, de fato, entre amigos, parentes, pais, mães e filhos. Nunca entre duas pessoas que só querem sexo e realização pessoal em uma relação.
Em um próximo momento, Schopenhauer voltará a me apoiar nessa grande guerra contra esse engano eterno.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Eu quero

Eu quero comprar CDs novos.
Eu quero seguir estudando francês.
Eu quero acordar cedo para me alimentar bem e talvez fazer exercícios.
Eu quero virar a noite bebendo em um bar, só a dois.
Eu quero virar a noite conversando com muitos amigos.
Eu quero ir a uma festa curtir rock’n roll.
Eu quero fazer roda punk.
Eu quero me virar e dizer “oi”.
Eu quero ter um milhão de amigos.
Eu quero ficar o dia inteiro sem ter que falar com ninguém.
Eu quero passar o dia todo sem ter que sorrir para ninguém.
Eu quero ficar quieto.
Eu quero dar um discurso libertador.
Eu quero ser o novo Syd Barrett.
Eu quero cometer suicídio aos 27 anos.
Eu quero vida longa.
Eu quero voltar a viver com 30 reais por mês.
Eu quero comprar todos os filmes do Bergman, do Truffaut, do Godard, do Chaplin e do Billy Wilder.
Eu quero ser eternamente livre, sem filhos nem mulher fixa.
Eu quero constituir uma família estruturada com uma mulher bacana e pelo menos quatro filhos.
Eu quero ficar milionário.
Eu sou contra a tecnologia.
Eu quero postar neste blog todos os dias.
Eu quero mudar o mundo.
Eu quero viver só para mim, esquecendo o resto do mundo.
Eu quero ficar o resto da vida sem ouvir rock pesado, só blues, MPB, samba e rock anos 60.
Eu quero ir ao show do Iron Maiden no Rock in Rio.
Eu quero que ninguém mais passe fome nesse planeta.
Eu quero passar todos os meus dias ao lado dela.
Eu quero ignorar.
Eu quero seguir a palavra de Deus.
Eu quero diversão.
Eu quero reflexão.
Eu quero ficar mais saudável.
Eu quero ser surfista e morar na praia.
Eu quero almoçar muito churrasco com Coca Cola e maionese.
Eu quero estudar história.
Eu quero morar em Paris ou em Londres.
Eu quero ficar mais perto da minha família.
Eu quero estudar filosofia.
Eu quero ir a um CTG vestido de gauchão.
Eu quero ir a um show de metal e sair todo quebrado da roda punk.
Eu quero morar em Porto Alegre.
Eu quero morar em Cachoeira do Sul.
Eu quero jogar futebol.
Eu quero ser gordo como o Jim Morrison no fim da vida.
Eu quero envelhecer magro como o Mick Jagger.
Eu quero comer e beber de tudo.
Eu quero estudar astronomia.
Eu quero viajar para a lua.
Eu quero estudar jornalismo.
Eu quero trabalhar em uma livraria.

Queremos tanto e acabaremos a vida com quase nada.

sábado, 3 de novembro de 2012

Tristeza


Tristeza é não ter o que fazer, estar sem reação. Quando estamos tristes, não pensamos em nada que possa ser feito. Não há nada para ser feito.
Estou vivo, mas não há motivos.
Tristeza é ficar sem chão. Não ter raiva, nem medo, só falta de vontade de fazer qualquer coisa. Ficar somente olhando para a parede e pensando em quando havia algo de bom para ser feito.
Não saber para que comer, beber, caminhar, comprar, vender, estudar, fumar, ler, assistir, conversar, matar socializar. Dormir, sim, isso causa muita empolgação. Acordar, talvez não.
            Injustiça não existe. O que está aí é imutável, já estava determinado.
Tristeza é não ter expectativa e, a cima de tudo, falta de vontade de tê-la.

Incondicionalidade

Eu sou: lerdo.
Eu tenho: a discografia completa do The Doors.
Eu estou: triste.
Eu vou: dormir.
Eu faço: massa com coração, pimentão, cebola e tomate.
Eu quero: beijá-la e passar a mão no rosto dela.

Tentando responder essas perguntas acima, fico pensando que o conjunto de todas as respostas formam o “Lucas.”
Uma pessoa não é formada de uma só informação, de uma única opinião.  A minha vida sou eu e todas essas respostas. Ou seja, se eu estou triste, esse sentimento faz parte da minha vida e, consequentemente, a tristeza sou eu.
            De agora em diante, não podemos mais desvincular a atitude de alguém de sua personalidade.
            Quando estou triste, gosto de cultivar a minha tristeza. Vou além, amando-a e respeitando-a até que a notícia boa nos separe. Se a tristeza faz parte da minha vida, eu estaria consequentemente me odiando se a odiasse.
Sentar, dialogar com a amiga tristeza, tentar compreendê-la e abraçá-la, ao invés de combatê-la. Dessa forma estaremos respeitando a nós mesmos.
Quem gosta de mim, consequentemente gosta da minha lerdeza,  da minha discografia do The Doors e da minha tristeza, uma vez que isso tudo sou EU. E pronto. Se não fosse assim, gostaríamos de animais de carne e osso interpretando personagens, não de UMA PESSOA ÚNICA e diferente de todas as outras. Observemos bem, utilizei-me como exemplo, mas todos são únicos.
Se um grande amigo meu fizer algo que eu desaprovo, não vou deixar de ser amigo dele, por mais grave que tenha sida o seu ato.
Se eu convivi com alguém por determinado tempo, considerando-o meu amigo, a pessoa passou a fazer parte da minha história de vida, logo, é parte de mim. Você deixaria de gostar de você mesmo, por algo de errado que fez? Portanto,  jamais haverá explicações que justifiquem o abandono de um amigo. Tudo isso é extremamente simples e lógico.
Eu me amo, amarei minha morte, minhas dores, meus sofrimentos e minhas alegrias. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Fazer parte da história do mundo


Chuck Berry, Arnaldo Baptista, Jorge Ben, Caetano Veloso, Billie Hollyday, Syd Barrett, Jimmy Page, Noel Rosa, Pete Townsend, Robert Johnson, Bob Dylan,  Miles Davis, Ludwig Van Beethoven, Cartola, Luiz Gonzaga, Paul McCartney, Ray Charles, Johnny Ramone, Bob Marley, Malcolm McLaren, Jimi Hendrix, Tom Jobim, Kurt Cobain, Wolfgang Amadeus Mozart, Leadbelly.
Charles Chaplin, Jean-Luc Godard, Lumiére, Stanley Kubrick, James Dean, Ingmar Bergman, François Truffaut, Audrey Hepburn, Sergei Eisenstein, George Mélies, Alfred Hitchcock, Clint Eastwood, Steven Spielberg, Dziga Vertov, Woody Allen, Glauber Rocha, Quentin Tarantino, Marlon Brando, Sergio Leoni.
A partir dessa pequena listagem dos grandes gênios inovadores das minhas duas maiores paixões, música e cinema, inicio uma tentativa de explicação para uma sensação que eu chamo de ”fazer parte da história do mundo”.
Comprei, há alguns dias, o disco Aproveite Agora, da Comunidade Nin-Jitsu, que fez muito sucesso no seu ano de lançamento, 2003. Se alguém não lembra, eis a oportunidade:


Essas coisas (sim, porque não tenho coragem de chamar de música) deixaram marca na minha vida por eu ter assistido ao show de lançamento, em Cachoeira do Sul, na melhor época da vida, de colégio e festas de adolescente, mas não fazem “parte da história do mundo”. Morreram e nasceram lá, em 2003, com suas gírias estranhas e com a sonoridade feita somente para vender e para ser o hit do verão. (Aliás, alguém ainda lembra da Musa do Verão, do Felipe Dylon?)
Assistindo a Tempos Modernos, de Charles Chaplin, por exemplo, nos sentimos ”fazendo parte da história do mundo”, visto que percebemos uma indignação com a Revolução Industrial, que ocorrera cinqüenta anos antes do filme e influenciaria todas as vidas até hoje, com a troca das pessoas pelas máquinas. A prova de que Charles Chaplin é atual acontece quando ligamos para uma loja, por exemplo, e somos atendidos por aquela maldita “secretária” eletrônica. A angústia sentida pelo simpático vagabundo ao parafusar repetidamente é a mesma que sentimos quando não conseguimos sacar dinheiro em um caixa eletrônico por ele estar estragado. Eu tenho saldo na conta, pois trabalhei para isso, mas a minha grana está trancada naquela maldita máquina, que nos distancia da nossa condição humana.



Por sentir essa necessidade de ”fazer parte da história do mundo” é  que prefiro ouvir Chuck Berry e Tom Jobim a Michel Teló e Jason Mraz. Pelo mesmo motivo opto por assistir ao Encouraçado Potemkin, do gênio russo Sergei Eisenstein e não à Última Música ou à Trair e Coçar é só começar. O primeiro tem seu roteiro até hoje reconhecido como revolucionário. Já o os outros dois, serão esquecidos dentro de pouco tempo.
É muito importante lembrar que, talvez, se eu assistir a ’Última Música’ ou ‘Trair e Coçar é só começar’ eu me divirta mais do que contemplando a beleza do Potenkim de Eisenstein, mas a velha e boa necesssidade de ”fazer parte da história do mundo” me gratifica depois. Eu não sou o cara do “hoje”, mas o do “sempre”. Em 1925, um cara que, anos atrás, defendera a Rússia na primeira guerra mundial no navio chamado Encouraçado Potenkin, fez um filme sobre seu tempo de batalha naquele lugar. Observe que fantástica oportunidade de sentirmos a emoção e terrores os da guerra.
Guerra, que mudou os rumos do século XX, no qual nasci e vivi por treze anos. Por que  diabos eu vou curtir algo vazio que só vai me dar duas horas de diversão e amanhã será esquecido por mim e por todo mundo?
Os primeiros minutos de Bonequinha de Luxo, se assistidos com atenção, mostram esse mundo através da personalidade anárquica e desapegada de Holly Golightly.
Não consegui encontrar o início do filme para mostrar aqui, mas vale a pena ver as melhores frases:



É exatamente por isso que me obrigo a ir a shows de artistas como o Pearl Jam. Quantas pessoas que passaram pela minha vida que usavam camisa xadrez e tênis All Star? Essa pergunta não parava de vir à minha cabeça desde o dia em que fiquei sabendo que Eddie Vedder e companhia se apresentariam em Porto Alegre. O mundo é muito maior que eu, portanto, o simples mortal que sou, com consciência de toda a grandiosidade representada pela banda, foi obrigado a ir ao espetáculo. Exatamente pela necessidade que tenho de ”fazer parte da história do mundo”.

É preciso explicar que há dois tipos de obras cinematográficas e musicais que nos levam a sentir ”fazendo parte da história do mundo”. A primeira são casos como a Bonequinha de Luxo, que retrata, através da personagem de Audrey Hepburn, o ser humano contemporâneo exatamente como ele é, inseguro e livre devido à sua solidão, que, no final, acaba por aprisioná-lo e destruí-lo; já o segundo, são aquelas obras legitimadas pelo tempo, como os dois primeiros filmes da trilogia do Poderoso Chefão ou o Led Zeppelin, que tinham tudo para ficarem esquecidos na década de 70, mas seguem sendo cultuados.
Eu não sou ninguém. Ao mesmo tempo, sou o mundo e, consequentemente, sou todas AS PESSOAS, assim como todas AS PESSOAS são eu. Como eu sou o mundo, concluo que preciso o observar de forma extremamente crítica e criativa, para aprender a viver melhor. Eis que assim o faço, mais uma vez.
Por favor, nada pessoal contra quem assiste aos filmes ou escuta as músicas que não “fazem parte da história do mundo”. Aqui, exponho a necessidade que sinto de “fazer parte da história do mundo” e não faço nada além de tentar explicar o que seria isso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Pessoas "comuns" garantem futuro do impresso


Nós, profissionais da comunicação, precisamos agir com muito esmero quando tratamos de assuntos que envolvem um grande público. Temos a obrigação de tentar pensar além da nossa realidade; entender que a maioria esmagadora das pessoas ainda não têm acesso aos nossos tablets, iPhones, etc.
Quando o professor diz em aula que a Zero Hora não traz nada na versão impressa que ainda não tenha sido noticiado no site no dia anterior, deixa entendido que o jornal tradicional está perdendo a utilidade. Dessa forma, ele está esquecendo de pessoas como Scheila Gonçalves, caixa de uma conhecida rede de supermercados da região central de Porto Alegre. Ela trabalha das 13h30 às 22h30 e conta que tem como única forma de informação os jornais disponíveis no refeitório, durante seu intervalo. A moça só tem acesso a internet na casa de amigas, além de só conseguir fazer visitas no dia da sua folga semanal e aproveitar a oportunidade para atualizar seu facebook e seu orkut, em vez de acessar sites jornalísticos.
João Batista, porteiro noturmo de um grande condomínio do centro da cidade, atuando das 18h às 6h, afirma: “por mais que digam, hoje em dia, que todo mundo tem internet, isso não é verdade”. Ele diz que o jornal sim, passa por todo mundo, até o morador de rua pode vir a se informar através dele. O profissional também conta que lê vários jornais diariamente e garante que só usa os sites como auxiliares, quando fica com “alguma dúvida” a respeito do que leu. “O jornal impresso ainda é o mais importante, tem caráter oficial, tem mais credibilidade”, conclui João.
“Eu me informo nas duas mídias e não acho que uma substitua a outra”, afirma Joana Sousa, funcionária de uma farmácia do bairro Cidade Baixa, referindo-se à web e ao jornal tradicional. Já o seu gerente, Luiz Carlos, diz que, apesar de gostar de ler impressos, acredita que eles estejam com os dias contados. “Acho que vai acabar ficando só a informática”, comenta o farmacêutico.
O Jornal do Povo, de Cachoeira de Sul, tem um projeto chamado “JP na Sala de Aula”, no qual os professores da rede municipal levam jornais à escola, para que cada aluno recorte a notícia que mais o chamou atenção e comente. Seria mais educativo selecionar e imprimir? Mandar por e-mail para a professora o texto escolhido e o comentário acrescentaria ao aprendizado?
Para finalizar, conversamos com Darci Marcelo, portoalegrense que está passando vinte dias em Passo Fundo, a trabalho. Ele assina a Zero Hora e está sentindo falta da sua leitura diária. Inclusive, ligou para seu sobrinho, há poucos dias, solicitando que ele guardasse a página da coluna de Paulo Sant`ana, que acabara de ler no site. “Quero guardar para ler várias vezes, tenho uma pasta cheia de recortes há mais de vinte anos”, conta orgulhoso. Ele termina falando que “não teria a mesma graça” imprimir o texto do site.
Essas são somente algumas poucas provas da força do impresso. Atenção, comunicadores. Para enxergarmos, precisamos observar algo fora do nosso “mundinho pós-moderno” de iPads, iPods e iPhones. O nosso objeto de estudo e discussão deve ser menos a tecnologia do que o homem, menos a máquina do que aquele que a controla e a fabrica. Enquanto a tecnologia aumenta e nós a estudamos, há muitos brasileiros que não sabem ler, independentemente de onde esteja escrito. Existe mundo além da FAMECOS e das salas de aula bem equipadas e com ar condicionado. Existem menos pessoas que leem notícias no celular com aplicativos avançadíssimos do que seres humanos “normais”, assinantes da Zero Hora ou do Correio do Povo, acostumados a ler pela manhã e seguir a leitura, à noite, esgotados, após mais um dia difícil de esforço físico e mental.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A inexistência do amor

Mais uma vez, tentarei falar sobre o amor, para provar que ele não existe.

"O amor é o mal", diz o gênio.
Com essa frase, Arthur Schopenhauer mostra a que veio na obra "A arte de lidar com as mulheres".
Aqui, ele defende que o amor é simplesmente uma desculpa da natureza para que a espécie não entre em extinção. Segundo o autor, o que leva dois indivíduos a "se atraírem exclusivamente um pelo outro... é o desejo de vida que se manifesta em toda a espécie".
Ele avança na teoria explicando que é por esse motivo que os casais acabam brigando tanto e se odiando depois de terem cumprido com sua função; a manutenção da espécie. Em suma, depois que a perpetuação da espécie está garantida, o indivíduo percebe que aquilo não era amor, mas sim um impulso instintivo.
"Logo satisfeito o desejo da espécie, a ilusão (no caso, o amor) irá se desvanecer e deixará apenas um (a) companheiro (a) detestável."
O leitor já deve ter percebido que esse tal amor é o assunto preferido dos poetas, dos músicos, dos cineastas e dos artistas em geral. Ora, se o amor é, na verdade, uma imposição da natureza, quando falamos dele estamos tratando de algo transcendental, o que distancia os apaixonados dos assuntos terrenos. Dessa forma, podemos entender porque todos acham que o amor deixa emocionado, distancia da realidade, é emocionante, inumano. Evidentemente que não é, mas também não é poesia, sentimento, mas comprometimento do invidíduo com a natureza.
"O homem tem razão em lutar para econtrar um parceiro. O único erro é pensar que a felicidade tem a ver com isso", diz ele.

Portanto, o amor não existe.
Continuarei nesse tema, pois ainda não estou satisfeito com o resultado.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O desafio de ser o Lucas, não um "homem de 25 anos"

Como hoje estou completando 25 anos, resolvi relembrar o que algumas pessoas já tinham feito com essa idade.
Para começar com as maiores pessoas que o mundo já conheceu, o meu pai foi o candidato a prefeito mais novo do Brasil em 1982, além de ter fundado o Partido dos Trabalhadores em Cachoeira do Sul anos antes. Com essa idade, ele já era casado com a minha mãe, que, por sua vez, já tinha acabado a faculdade e contribuído com textos para a coletânea "Poetas do Vale" de Cachoeira do Sul.
Fico lembrando que quando os Casacavelettes se separaram, todos os integrantes tinham menos de 25 anos. Ou seja, eles fizeram aquela obras eternas com vinte aninhos, que incrível!
Paul, George, Ringo e John já tinham conquistado o coração do o mundo, Keith Richards e companhia já tinham gravado Satisfaction e Elvis já era o homem mais cobiçado pelas mulheres e o mais imitado pelos homens.
Com 25 anos, Charles Chaplin interpretou pela primeira vez o maior personagem da história do cinema, o"Little Fellow" ou "The tramp", o Carlitos, como ficou conhecido no Brasil.
Pelé já era o rei do futebol após encantar o planeta com seus gols na copa da Suécia e nos mundiais de clubes de 1962 e 1963.
Arthur Schopenhauer fez sua dissertação de doutorado aos 25 anos, com argumentos já avançadíssimos sobre sua pricipal teoria; a de vontade e representação.
Bob Dylan já tinha grravado cinco discos de estúdio, estava preparando seu primeiro ao vivo e até já tinha sido chamado de "Judas" pelos puritanos do folk por ter usado guitarra elétrica.
Roberto Marinho tornou-se editor chefe do jornal O GLOBO com 21 anos.
Aos 25 anos, o genial Orson Welles dirigiu, escreveu e protagonizou "Cidadão Kane", considerado pelo American Film Insitute  como o maior filme americano de todos os tempos.

Bom, mas o meu desafio é não deixar isso me abalar. Se ainda não fiz grandes coisas, como as grandes pessoas citadas a cima, preciso me focar e seguir a vida para um dia chegar lá.
Uma das minhas principais preocupações é não me permitir "ser engolido" pelos conceitos e interpretações que acompanham determinados fatores da vida.
Refiro-me, por exemplo, às profissões.
Os conceitos, as expectativas e a simbologia que acompanham as palavras "jornalista", “advogado”, “médico” e “dentista”, por exemplo, são bem maiores e poderosos do que qualquer indivíduo. Assim como a expressão "homem de 25 anos".
Restam duas opções para esse ser humano medíocre; primeira, banalizar-se, a partir do pensamento “sou um médico” ou "tenho 25 anos", passando a agir como tal, baseado na imagem já existente na sociedade, deixando de ser ele mesmo ou então, como segunda opção, pensar muito, livrar-se desses conceitos e viver sua vida normalmente. Dessa vez, sim, como uma pessoa normal, não como um fantoche fantasiado de "pessoa de 25 anos" ou de "profissional da medicina", mas sem uma bagagem emocional para suportar essas responsabilidades.
O importante é seguir vivendo apesar de tudo e com tudo. Eu sou o mesma pessoa que entrou na pré-escola louca para estudar, a mesma que jogava futebol das 15h às 20h e só não virava a noite porque a mãe mandava parar, a mesma que fez de tudo para escapar do exército e conseguiu com a grande ajuda da mesma maravilhosa mãe, a mesma que conseguiu ingressar no jornalismo da PUC após quatro tentativas no ENEM e que hoje completa 25 anos tentando esquecer que é a "metade de 50".

domingo, 22 de julho de 2012

Era uma vez uma vida

Era Uma Vez em Tóquio ou Contos de Tóquio (Tokyo Story) é um belo filme, feito no distante ano de 1953, por um diretor pouco conhecido pelo grande público, até mesmo na sua época, chamado Yasujiro Ozu. Ele fazia filmes intimistas, sem nenhum apelo comercial e esse foi seu maior êxito, décadas depois reconhecido por críticos como uma obra máxima do cinema. Filmado com â camera no chão para passar a ideia de dia-a dia, Era Uma Vez... nos insere na vida de uma tradicional família japonesa, na qual os filhos saíram da casa dos pais para tentar a vida na cidade grande, no caso, Tóquio.
Em meio à alguns elementos da cultura japonesa e diálogos corriqueiros, tentemos observar a sutileza de
Ozu. Ele nos mostra que a vida é aquilo mesmo: conversas sobre as refeições, a hora de dormir, os gostos das pessoas, lembranças de velhos vizinhos já falecidos. A partir do momento em que somos capturados pela percepção de rotina do diretor, ele nos dá um duro golpe. Já incluídos nela, passamos a perceber quão dura e triste pode ser a vida, quando ela deixa de ser normal.
A morte, os conflitos de gerações e o abandono tomam conta da tela para que a mensagem final nos seja transmitida de forma clara. A personagem mais sonhadora do filme pergunta: "A vida não é decepcionante?". A resposta vem acompanhada de um sorriso: "Sim. Ela é."A conclusão do filme pode ser considerada conformista por aqueles que conseguirem "aguentar" os intermináveis 135 minutos, mas levando em conta todos os aspectos levantados por Yasujiro Ozu, concordaremos com ele.

Quem quiser se arriscar, o filme foi lançado pela Versátil Home Video.





segunda-feira, 16 de julho de 2012

MUNDO

Existe uma propaganda atualmente na qual as pessoas seguram um tablet e falam orgulhosas: "Este é o meu MUNDO", apontando para os seus aparelhos. E eu, ali, sentado, vestindo moleton e calça velhos, em frente a uma simples televisão de 29, me pergunto: "Se o MUNDO delas é um tablet e as informações as quais eles têm acesso por ali, qual será o meu?". Qual será o MUNDO do senhor que fez os lanches que minha mãe, meus irmãos e eu comemos hoje à noite? E o da minha vizinha que passa a tarde sentada na frente da casa? E qual será o MUNDO do rapaz que esses dias veio vender abacates aqui em casa para alimentar seu vício em crack?
Nós não temos mundo porque não temos tablets?
Para os crentes, MUNDO refere-se à comunidade formada por todas as pessoas que não são cristãs. A música popular, por exemplo, é conhecida como "música do MUNDO", essa sendo considerada impura e pecaminosa. Nesse caso, o tablet da moça da propaganda é o pecado dela, a forma de se afastar de Cristo.
Wittgentein considera um "mundo como totalidade dos fatos", que independe da interpretação do homem. Para ele, o MUNDO é uma verdade absoluta. Nesse momento, lembramos mais uma vez da propaganda e concluímos que a moça vive em função daquele aparelho tecnológico, pois ele é seu "fato absoluto". Que mesquinha.
Schopenaheur defende que o MUNDO é criado a partir da representação do indivíduo, ou seja; não há MUNDO antes das pessoas manipularem-no. Pelo princípio de Schopenhauer, a moça quer que seu MUNDO seja daquela forma; cheio de possibilidades, mas solitário, sem emoção e com poucas chances de verdadeira comunicação.
Martin Heidegger vai além, considerando impossível conceituar "MUNDO" antes de entender o homem.
"Mundo e homem constituem pressupostos inevitáveis e elementos primordiais para a abordagem metafísica da questão de mundo", afirma ele. O "problema do  MUNDO" está eternamente inerente ao indivíduo.

Independentemente de qual dessas ideias de MUNDO acreditamos ou defendemos, em nenhuma delas um tablet pode ser considerado o nosso "MUNDO". O pior é que a maioria esmagadora das  PESSOAS considera isso uma evolução. Dessa forma, a humanidade segue a passos largos rumo ao enlouquecimento, ao seu  ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.
O MUNDO dos seres pensantes depende do ser humano e existe em função dele, mas o nosso mundinho atual está transportando-se rápida e perigosamente para dentro de uma tela.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A minha loucura


A minha loucura

Minha vida é algo estranho. Não sei se é culpa da época que eu nasci, da minha cidade natal, das músicas que eu escuto, dos filmes de terror que eu assistia na infância ou, o que eu acho mais provável, da minha mente doente que veio comigo sem que eu pudesse escolher uma mais normal. Ela veio assim ou transformou-se?
Mas, baseado nesse primeiro parágrafo sem sentido, resolvi escrever palavras e frases soltas que só terão sentido para mim. Ou não?
Comecei a viver dentro de uma bola, em pequenos círculos brancos e macios, quando tinha de nove para dez anos. Os primeiros amigos mais velhos, a inversão de valores. Aprendi, desde sempre, que era errado jogar futebol sem calçado, pois eu machucaria meus pés e também sempre ouvi que era bacana ser “amigo de verdade, companheiro”. Lá, quando eu dizia que iria colocar tênis ou quando abraçava um amigo, era chamado de “viadinho”. Não sei se quero que meus filhos sejam chamados de viadinho. Mas meus pés estão bem inteiros e cresci sabendo o que é uma amizade verdadeira. Certamente valeu a pena ter sido chamado disso.
Na escola, apesar de ter convivido muito mais com pessoas diferentes do que com pessoas parecidas comigo, me saí bem. Mantive meus princípios, na maioria das vezes, apesar de ter seguido algumas modas. Mas realmente não acho que ter usado boné laranja durante alguns meses, gel no cabelo por uns dois anos e calça larga por uns três, tenha sido desvio de caráter. Normal para um guri de quinze, dezesseis anos.
This is the end, my only friend the end. The west is the best, Get here and We’ll do the rest. The blue bus is calling us... Qual será esse ônibus azul? O Jim também não sabe. Mas eu sigo tentando explicar o que o Morrison tem a ver com isso tudo. A revolta silenciosa. Vocês já perceberam que quando ele pulava no palco, parecia que ele iria gritar mais, bater em alguém, mas caia mudo, de cabeça baixa? Isso quer dizer muito. “Eu sei que está tudo errado, já fiz minha parte, agora é com vocês”. “Come on, baby, take a chance with us”. Ok. Alguém se arriscou? Muito poucos. É, James Douglas, é uma pena que tu tenhas ido tão cedo, pois teus substitutos passaram longe da tua inteligência e atitude.
Mas, hoje, passo por uma fase mais tranquila. Sinto  Sinto que estou a caminho de conseguir o que eu quero, mesmo que não saiba exatamente o que é. A bolsa na PUC foi a única garantia de felicidade da minha vida. Todas as outras conquistas e mudanças me pareceram ter mais pontos negativos que positivos.
Dou graças a Deus pelos meus pais serem meus pais. Fiquei um ano e meio dançando dentro de garrafões de vinho ou de garrafas de cachaça barata, sem que eles cortassem minha alegria. Vivi com dez reais por semana nesse período e ainda o considero o segundo melhor da minha existência, depois do atual. O gosto da irresponsabilidade é o melhor de todos. A liberdade de pensar, fazer, escutar, assistir o que quiser é fascinante. A minha liberdade só acabava na hora das refeições, que eu tinha que fazer na mesma hora de toda a família. E como foi bom. Se na época eu já valorizava, agora ainda mais. “Luquinhas, acorda, o almoço está na mesa.” Devo grande parte da minha vontade de viver e até de quem eu sou atualmente a esse pequeno detalhe. Uma refeição com todos em volta da mesa vale mais do que toda a riqueza do Planeta. O maior prazer do mundo é poder não fazer aquilo que não se quer, de forma alguma. Dormi até o meio-dia, joguei futebol, saí em todos os horários possíveis, com todos os tipos de pessoas possíveis, bebi, ouvi o Made in Brazil cantar “vivemos o dia de hoje sem pensar no amanhã” e eu, realmente, coloquei isso em prática. E viva o Rock’n Roll.
Agora estou tentado viver minha loucura, dentro do possível, sem sair da vida, sem fugir da responsabilidade. Estudar e trabalhar não é fácil.
Hoje assisti ao filme “Down by Law”. É Demais. Trata exatamente dessa loucura, desse estilo de vida inconseqüente. Mostra também a diferença que faz uma pessoa bem humorada e, às vezes, idiota, em um momento de dificuldade.
Os trouxas, os bobalhões, as pessoas fora da realidade, aquelas que riem de tudo, são os verdadeiros salvadores da humanidade. O personagem Bob, vivido de forma mágica pelo Roberto Benigni, é mais um daqueles que vão me fazer pensar para o resto da vida. “I scream. You scream. We all scream for Ice-cream”.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A fabricação da realidade, que por ser fabricada, não é realidade

A realidade é fabricada por vários aspectos. Cada pessoa, com sua subjetividade, cria sua própria e ajuda a criar a daqueles com os quais convive.
Questiono muito é a realidade geral, as convenções, os acordos tácitos da sociedade, o considerado normal por todas AS PESSOAS.
Mas vou tentar discutir aqui como se formou essa realidade, quem deu ao “bolo” o seu nome. E o cake? Objetivo refletir sobre o fenômeno que ocorre na nossa mente quando ouvimos a palavra “bolo”. O que imaginamos? (não siga a leitura antes de tentar lembrar que jeito era o bolo que você imaginou). De onde vem esse bolo? Se cada um pode imagiar um bolo diferente, a realidade não existe. Se ela não existe em discussões supérfluas como essa, porque um fato ou uma verdade vão ter uma versão só? Se a realidade não existe de forma absoluta, quem somos nós? Enquanto você está lendo, lembra de mim como? Imagina eu escrevendo em que situação? Em que tipo de computador? Com que roupa? Ok, cada pessoa vai imaginar de um jeito, então qual desses que eu sou? Eu não sou nada. Isso tudo é apenas mais uma forma de ver a frase do meu grande ídolo:
Não existe o céu e nem a terra, mas mãos que tocam a terra e olhos que veem o sol”, Arthur Schopenhauer.
Ele nos diz que, por exemplo, a mata mais remota do planeta, que nunca foi habitada e nem visitada por um ser humano, ainda não existe, visto que não faz diferença o que está lá, se não for tocado, manipulado por um homem. É o mundo como vontade e representação, como eu desejo ver o sol e como eu quero que ele seja. Esse “quero” não é consciente, ele é totalmente subjetivo e sútil, mas essa é outra discussão bem importante que não vem ao caso.
O que fica decidido a partir de agora é que a realidade não existe e, consequentemente, a verdade também não, por isso ninguém tem razão nunca e, dessa forma, todas discussões podem ser excluídas de todas as vidas. Eu tenho a minha razão. Se eu quiser chamar de “mesa” o que determimou-se chamar de “computador”, posso ficar à vontade.

A linguagem é fascista, autoritária”.

O Kaspar Hauser e a aula de teorias da comunicação me enlouqueceram.


O Enigma de Kaspar Hauser, Herzog. Alemanha, 1974


sábado, 24 de março de 2012

Roger Waters e o The Wall

O músico inglês Roger Waters se apresentará dia 25 de março, domingo, no estádio Beria-Rio, em Porto Alegre. Ele mostrará na capital a turnê que iniciou em 2009, como comemoração dos 40 anos do disco The Wall, de 1979, tocando o disco na íntegra e na ordem original.
The Wall é um disco duplo, conceitual, sobre guerra, problemas da infância e da educação, conflitos existenciais, vazio interior e tijolos. Podemos nos perguntar qual o sentido dos tijolos no meio de todos os outros temas. Waters nunca deu a explicação exata, mas entre todas as opções, a mais aceitável é a exposta pelo filme homônimo, dirigido por Alan Parker , estrelado por Bob Geldoff e produzido pelo próprio Waters. Como o pai do músico foi morto na segunda guerra e recebeu, como “homenagem”, uma sepultura simbólica em seu nome, em um muro, Waters estaria se utilizando de uma metáfora para dizer que seu pai deixou de ser humano para se tornar “just another brick in the wall” (apenas mais um tijolo no muro).
Além disso, os tijolos representam os problemas que enfrentamos. Dessa forma, acabamos construindo um muro ao nosso redor, que nos separa do mundo, deixando-nos isolados. No primeiro disco, o personagem fictício relembra a infância com a ausência do pai, a indiferença da mãe e as humilhações pelas quais passava na escola. Após isso, ele entra em depressão, chegando ao ponto de rejeitar uma bela mulher, destruir a casa na presença dela e se despedir do céu azul, em “Goodbye, blue sky” e do mundo, em “Goodbye, cruel world” (adeus, mundo cruel), a última faixa do primeiro disco.
Somente no segundo disco, ele percebe que já está dentro do muro e se pegunta: “is there anybody out there?” Não há resposta, as memórias da morte do pai e da guerra voltam, até ocorrer a loucura (palavra perfeita para descrever os fenômenos Floydianos) maior. Ele sonha que é um líder nazista, que está raspando todos os pelos do corpo, expulsando negros, judeus, usuários de drogas e homossexuais de um recinto. Após isso, espanca pessoas na rua e é ovacionado por seus adoradores, como um verdadeiro Fuhrer. Na faixa “Stop”, o personagem volta a ter certa lucidez e pede para que tudo pare. Mas não adianta.
Em The Trial (o julgamento), penúltima faixa, ocorre o desfecho da história: “There must have been a door there in the wall when I came in” (tinha que haver uma uma porta lá no muro quando eu entrei). Mas o muro foi contruído pelo próprio prisioneiro narrador e não há mais saída. Dessa forma melancólica, Waters nos tira qualquer esperança de salvação, mas faz questão de nos lembrar, na última faixa, Outside the Wall, que ainda há vida lá fora, apesar de não podermos mais participar dela. Arrependido de ter se fechado para o mundo, o persongem tem seu trágico fim.
É essa história genial, obscura e arrebatadora que faz de The Wall um dos maiores discos da história do Rock’n Roll e um dos marcos da contemporaneidade.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O amor de Jules (uma reflexão sobre o amor)


Já faz um bom tempo que minha pretensiosa, perturbada e questionadora mente pensa a respeito do mais complexo dos sentimentos. Depois de concluir que “não vai haver amor nesse mundo nunca mais” (dá-lhe Marceleza), passei a tentar compreender primeiro o que é o amor, para, finalmente, buscar compreender porque ele não existe mais. (É preciso deixar claro que o amor aqui discutido é o que supostamente ocorre entre casais de namorados, etc. Excluí-se, então, obviamente, o que acontece de pai para filho, de neto para avó, entre amigos, etc.)
Assistindo ao filme “Jules et Jim” (Jules e Jim – Uma mulher para dois, François Truffaut, França, 1962), encontrei um verdadeiro exemplo de amor, no sentido mais puro, verdadeiro e sincero da palavra; Jules, interpretado de forma simples, porém intensa, pelo ator Oskar Werner. Vale lembrar que esse amor ocorre apenas na ficção, o que não tira dele o título de “amor verdadeiro”
O filme: a belíssima e cativante Catherine (Jeanne Moreau) casa-se com Jules, que traz seu amigo de infância, Jim, para morar com ele e com sua esposa. Recém casados, já fazem um filho, que nasce enquanto a dupla de amigos está lutando na guerra. A mulher cria a filha sozinha, enquanto troca cartas apaixonadas com seu amado. Quando voltam do combate, a esposa passa a distanciar-se cada vez mais de Jules, confidenciando a Jim que seu marido voltara muito mudado da guerra. Jules, na verdade, venerava cada vez mais sua esposa. Jim e Catherine ficam cada vez mais próximos e íntimos, até que ela resolve trocar de par. Enquanto Jules brinca com a filha, sua esposa transa com seu grande amigo, na mesma casa.
A partir daqui, o filme deixa de ser simplesmente um roteiro bem feito filmado por um diretor competente, para entrar para a história como um dos maiores filmes já produzidos. A genialidade e grandiosidade de um, à época, jovem cineasta. Truffaut nos tira do lugar comum e comprova a frase de apresentação do DVD: “O melhor filme já feito sobre o amor”. Podemos pensar que Jules vai matar os dois traidores (não chamaremos mais assim), que ele vai embora revoltado ou que vai brigar e infernizar a vida dos dois. Nada disso ocorre. Ele segue amando, admirando e venerando sua deusa, além de respeitar a decisão dela. Isso é amor. Em uma conversa franca, Jim acusa Jules de tratar Catherine como uma rainha. A resposta vem com um sorriso puro, através de uma voz tranquila: “mas ela é uma rainha”.
Se observarmos com um olhar desatento, podemos considerar a obra uma “putaria” ou até mesmo a classificarmos como um simples triângulo amoroso. Mas não é assim, milhões de vezes, NÃO.
Quem ama de verdade não precisa provar, pode viver tranquilo, desde que seu(sua) amado(a) esteja feliz e em paz. O Jules amava, de fato. Aceitou ser trocado, pois percebeu que, no momento, Catherine achou que ele não era a melhor opção para ela. Além disso, serviu de amigo e conselheiro, quando Jim fugiu sem deixar notícias. Ele teve chance de transar com ela na ausência do amigo, mas não o fez, visto que sempre respeitou, a cima de tudo, seu verdadeiro amor.
Quem ama, cuida, protege, suporta, dá carinho, faz rir. E só. Não questiona, não prende, não expõe, não mente, não oculta. E digo mais: o amor verdadeiro é traído, mas aceita. Enquanto o lugar comum chama de corno, eu chamo de amor inabalável, simplesmente amor. Se for diferente disso, não é amor.
Se eu sinto ciúmes, o sentimento ridículo é meu e eu tenho que dar um jeito nele. A pessoa que está comigo não tem culpa nenhuma e nem precisa ficar sabendo. Ter ciúmes deveria deixar a pessoa envergonhada.
Após compreender o que é amor, a mais nova conclusão é que ele não passa de um horizonte inalcançável, um delírio daqueles que só a mente humana mais doentia pode acreditar.
            O fato de o verdadeiro amor ser inalcançável para a mesquinhez humana não redime os outros sentimentos menores, elevando-os ao status de amor. Assista “Jules e Jim” e cuide-se, por favor, para não cair no lugar comum.

"Não vai haver amor nesse mundo nunca mais."