quarta-feira, 16 de maio de 2012

A minha loucura


A minha loucura

Minha vida é algo estranho. Não sei se é culpa da época que eu nasci, da minha cidade natal, das músicas que eu escuto, dos filmes de terror que eu assistia na infância ou, o que eu acho mais provável, da minha mente doente que veio comigo sem que eu pudesse escolher uma mais normal. Ela veio assim ou transformou-se?
Mas, baseado nesse primeiro parágrafo sem sentido, resolvi escrever palavras e frases soltas que só terão sentido para mim. Ou não?
Comecei a viver dentro de uma bola, em pequenos círculos brancos e macios, quando tinha de nove para dez anos. Os primeiros amigos mais velhos, a inversão de valores. Aprendi, desde sempre, que era errado jogar futebol sem calçado, pois eu machucaria meus pés e também sempre ouvi que era bacana ser “amigo de verdade, companheiro”. Lá, quando eu dizia que iria colocar tênis ou quando abraçava um amigo, era chamado de “viadinho”. Não sei se quero que meus filhos sejam chamados de viadinho. Mas meus pés estão bem inteiros e cresci sabendo o que é uma amizade verdadeira. Certamente valeu a pena ter sido chamado disso.
Na escola, apesar de ter convivido muito mais com pessoas diferentes do que com pessoas parecidas comigo, me saí bem. Mantive meus princípios, na maioria das vezes, apesar de ter seguido algumas modas. Mas realmente não acho que ter usado boné laranja durante alguns meses, gel no cabelo por uns dois anos e calça larga por uns três, tenha sido desvio de caráter. Normal para um guri de quinze, dezesseis anos.
This is the end, my only friend the end. The west is the best, Get here and We’ll do the rest. The blue bus is calling us... Qual será esse ônibus azul? O Jim também não sabe. Mas eu sigo tentando explicar o que o Morrison tem a ver com isso tudo. A revolta silenciosa. Vocês já perceberam que quando ele pulava no palco, parecia que ele iria gritar mais, bater em alguém, mas caia mudo, de cabeça baixa? Isso quer dizer muito. “Eu sei que está tudo errado, já fiz minha parte, agora é com vocês”. “Come on, baby, take a chance with us”. Ok. Alguém se arriscou? Muito poucos. É, James Douglas, é uma pena que tu tenhas ido tão cedo, pois teus substitutos passaram longe da tua inteligência e atitude.
Mas, hoje, passo por uma fase mais tranquila. Sinto  Sinto que estou a caminho de conseguir o que eu quero, mesmo que não saiba exatamente o que é. A bolsa na PUC foi a única garantia de felicidade da minha vida. Todas as outras conquistas e mudanças me pareceram ter mais pontos negativos que positivos.
Dou graças a Deus pelos meus pais serem meus pais. Fiquei um ano e meio dançando dentro de garrafões de vinho ou de garrafas de cachaça barata, sem que eles cortassem minha alegria. Vivi com dez reais por semana nesse período e ainda o considero o segundo melhor da minha existência, depois do atual. O gosto da irresponsabilidade é o melhor de todos. A liberdade de pensar, fazer, escutar, assistir o que quiser é fascinante. A minha liberdade só acabava na hora das refeições, que eu tinha que fazer na mesma hora de toda a família. E como foi bom. Se na época eu já valorizava, agora ainda mais. “Luquinhas, acorda, o almoço está na mesa.” Devo grande parte da minha vontade de viver e até de quem eu sou atualmente a esse pequeno detalhe. Uma refeição com todos em volta da mesa vale mais do que toda a riqueza do Planeta. O maior prazer do mundo é poder não fazer aquilo que não se quer, de forma alguma. Dormi até o meio-dia, joguei futebol, saí em todos os horários possíveis, com todos os tipos de pessoas possíveis, bebi, ouvi o Made in Brazil cantar “vivemos o dia de hoje sem pensar no amanhã” e eu, realmente, coloquei isso em prática. E viva o Rock’n Roll.
Agora estou tentado viver minha loucura, dentro do possível, sem sair da vida, sem fugir da responsabilidade. Estudar e trabalhar não é fácil.
Hoje assisti ao filme “Down by Law”. É Demais. Trata exatamente dessa loucura, desse estilo de vida inconseqüente. Mostra também a diferença que faz uma pessoa bem humorada e, às vezes, idiota, em um momento de dificuldade.
Os trouxas, os bobalhões, as pessoas fora da realidade, aquelas que riem de tudo, são os verdadeiros salvadores da humanidade. O personagem Bob, vivido de forma mágica pelo Roberto Benigni, é mais um daqueles que vão me fazer pensar para o resto da vida. “I scream. You scream. We all scream for Ice-cream”.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A fabricação da realidade, que por ser fabricada, não é realidade

A realidade é fabricada por vários aspectos. Cada pessoa, com sua subjetividade, cria sua própria e ajuda a criar a daqueles com os quais convive.
Questiono muito é a realidade geral, as convenções, os acordos tácitos da sociedade, o considerado normal por todas AS PESSOAS.
Mas vou tentar discutir aqui como se formou essa realidade, quem deu ao “bolo” o seu nome. E o cake? Objetivo refletir sobre o fenômeno que ocorre na nossa mente quando ouvimos a palavra “bolo”. O que imaginamos? (não siga a leitura antes de tentar lembrar que jeito era o bolo que você imaginou). De onde vem esse bolo? Se cada um pode imagiar um bolo diferente, a realidade não existe. Se ela não existe em discussões supérfluas como essa, porque um fato ou uma verdade vão ter uma versão só? Se a realidade não existe de forma absoluta, quem somos nós? Enquanto você está lendo, lembra de mim como? Imagina eu escrevendo em que situação? Em que tipo de computador? Com que roupa? Ok, cada pessoa vai imaginar de um jeito, então qual desses que eu sou? Eu não sou nada. Isso tudo é apenas mais uma forma de ver a frase do meu grande ídolo:
Não existe o céu e nem a terra, mas mãos que tocam a terra e olhos que veem o sol”, Arthur Schopenhauer.
Ele nos diz que, por exemplo, a mata mais remota do planeta, que nunca foi habitada e nem visitada por um ser humano, ainda não existe, visto que não faz diferença o que está lá, se não for tocado, manipulado por um homem. É o mundo como vontade e representação, como eu desejo ver o sol e como eu quero que ele seja. Esse “quero” não é consciente, ele é totalmente subjetivo e sútil, mas essa é outra discussão bem importante que não vem ao caso.
O que fica decidido a partir de agora é que a realidade não existe e, consequentemente, a verdade também não, por isso ninguém tem razão nunca e, dessa forma, todas discussões podem ser excluídas de todas as vidas. Eu tenho a minha razão. Se eu quiser chamar de “mesa” o que determimou-se chamar de “computador”, posso ficar à vontade.

A linguagem é fascista, autoritária”.

O Kaspar Hauser e a aula de teorias da comunicação me enlouqueceram.


O Enigma de Kaspar Hauser, Herzog. Alemanha, 1974