quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Fazer parte da história do mundo


Chuck Berry, Arnaldo Baptista, Jorge Ben, Caetano Veloso, Billie Hollyday, Syd Barrett, Jimmy Page, Noel Rosa, Pete Townsend, Robert Johnson, Bob Dylan,  Miles Davis, Ludwig Van Beethoven, Cartola, Luiz Gonzaga, Paul McCartney, Ray Charles, Johnny Ramone, Bob Marley, Malcolm McLaren, Jimi Hendrix, Tom Jobim, Kurt Cobain, Wolfgang Amadeus Mozart, Leadbelly.
Charles Chaplin, Jean-Luc Godard, Lumiére, Stanley Kubrick, James Dean, Ingmar Bergman, François Truffaut, Audrey Hepburn, Sergei Eisenstein, George Mélies, Alfred Hitchcock, Clint Eastwood, Steven Spielberg, Dziga Vertov, Woody Allen, Glauber Rocha, Quentin Tarantino, Marlon Brando, Sergio Leoni.
A partir dessa pequena listagem dos grandes gênios inovadores das minhas duas maiores paixões, música e cinema, inicio uma tentativa de explicação para uma sensação que eu chamo de ”fazer parte da história do mundo”.
Comprei, há alguns dias, o disco Aproveite Agora, da Comunidade Nin-Jitsu, que fez muito sucesso no seu ano de lançamento, 2003. Se alguém não lembra, eis a oportunidade:


Essas coisas (sim, porque não tenho coragem de chamar de música) deixaram marca na minha vida por eu ter assistido ao show de lançamento, em Cachoeira do Sul, na melhor época da vida, de colégio e festas de adolescente, mas não fazem “parte da história do mundo”. Morreram e nasceram lá, em 2003, com suas gírias estranhas e com a sonoridade feita somente para vender e para ser o hit do verão. (Aliás, alguém ainda lembra da Musa do Verão, do Felipe Dylon?)
Assistindo a Tempos Modernos, de Charles Chaplin, por exemplo, nos sentimos ”fazendo parte da história do mundo”, visto que percebemos uma indignação com a Revolução Industrial, que ocorrera cinqüenta anos antes do filme e influenciaria todas as vidas até hoje, com a troca das pessoas pelas máquinas. A prova de que Charles Chaplin é atual acontece quando ligamos para uma loja, por exemplo, e somos atendidos por aquela maldita “secretária” eletrônica. A angústia sentida pelo simpático vagabundo ao parafusar repetidamente é a mesma que sentimos quando não conseguimos sacar dinheiro em um caixa eletrônico por ele estar estragado. Eu tenho saldo na conta, pois trabalhei para isso, mas a minha grana está trancada naquela maldita máquina, que nos distancia da nossa condição humana.



Por sentir essa necessidade de ”fazer parte da história do mundo” é  que prefiro ouvir Chuck Berry e Tom Jobim a Michel Teló e Jason Mraz. Pelo mesmo motivo opto por assistir ao Encouraçado Potemkin, do gênio russo Sergei Eisenstein e não à Última Música ou à Trair e Coçar é só começar. O primeiro tem seu roteiro até hoje reconhecido como revolucionário. Já o os outros dois, serão esquecidos dentro de pouco tempo.
É muito importante lembrar que, talvez, se eu assistir a ’Última Música’ ou ‘Trair e Coçar é só começar’ eu me divirta mais do que contemplando a beleza do Potenkim de Eisenstein, mas a velha e boa necesssidade de ”fazer parte da história do mundo” me gratifica depois. Eu não sou o cara do “hoje”, mas o do “sempre”. Em 1925, um cara que, anos atrás, defendera a Rússia na primeira guerra mundial no navio chamado Encouraçado Potenkin, fez um filme sobre seu tempo de batalha naquele lugar. Observe que fantástica oportunidade de sentirmos a emoção e terrores os da guerra.
Guerra, que mudou os rumos do século XX, no qual nasci e vivi por treze anos. Por que  diabos eu vou curtir algo vazio que só vai me dar duas horas de diversão e amanhã será esquecido por mim e por todo mundo?
Os primeiros minutos de Bonequinha de Luxo, se assistidos com atenção, mostram esse mundo através da personalidade anárquica e desapegada de Holly Golightly.
Não consegui encontrar o início do filme para mostrar aqui, mas vale a pena ver as melhores frases:



É exatamente por isso que me obrigo a ir a shows de artistas como o Pearl Jam. Quantas pessoas que passaram pela minha vida que usavam camisa xadrez e tênis All Star? Essa pergunta não parava de vir à minha cabeça desde o dia em que fiquei sabendo que Eddie Vedder e companhia se apresentariam em Porto Alegre. O mundo é muito maior que eu, portanto, o simples mortal que sou, com consciência de toda a grandiosidade representada pela banda, foi obrigado a ir ao espetáculo. Exatamente pela necessidade que tenho de ”fazer parte da história do mundo”.

É preciso explicar que há dois tipos de obras cinematográficas e musicais que nos levam a sentir ”fazendo parte da história do mundo”. A primeira são casos como a Bonequinha de Luxo, que retrata, através da personagem de Audrey Hepburn, o ser humano contemporâneo exatamente como ele é, inseguro e livre devido à sua solidão, que, no final, acaba por aprisioná-lo e destruí-lo; já o segundo, são aquelas obras legitimadas pelo tempo, como os dois primeiros filmes da trilogia do Poderoso Chefão ou o Led Zeppelin, que tinham tudo para ficarem esquecidos na década de 70, mas seguem sendo cultuados.
Eu não sou ninguém. Ao mesmo tempo, sou o mundo e, consequentemente, sou todas AS PESSOAS, assim como todas AS PESSOAS são eu. Como eu sou o mundo, concluo que preciso o observar de forma extremamente crítica e criativa, para aprender a viver melhor. Eis que assim o faço, mais uma vez.
Por favor, nada pessoal contra quem assiste aos filmes ou escuta as músicas que não “fazem parte da história do mundo”. Aqui, exponho a necessidade que sinto de “fazer parte da história do mundo” e não faço nada além de tentar explicar o que seria isso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Pessoas "comuns" garantem futuro do impresso


Nós, profissionais da comunicação, precisamos agir com muito esmero quando tratamos de assuntos que envolvem um grande público. Temos a obrigação de tentar pensar além da nossa realidade; entender que a maioria esmagadora das pessoas ainda não têm acesso aos nossos tablets, iPhones, etc.
Quando o professor diz em aula que a Zero Hora não traz nada na versão impressa que ainda não tenha sido noticiado no site no dia anterior, deixa entendido que o jornal tradicional está perdendo a utilidade. Dessa forma, ele está esquecendo de pessoas como Scheila Gonçalves, caixa de uma conhecida rede de supermercados da região central de Porto Alegre. Ela trabalha das 13h30 às 22h30 e conta que tem como única forma de informação os jornais disponíveis no refeitório, durante seu intervalo. A moça só tem acesso a internet na casa de amigas, além de só conseguir fazer visitas no dia da sua folga semanal e aproveitar a oportunidade para atualizar seu facebook e seu orkut, em vez de acessar sites jornalísticos.
João Batista, porteiro noturmo de um grande condomínio do centro da cidade, atuando das 18h às 6h, afirma: “por mais que digam, hoje em dia, que todo mundo tem internet, isso não é verdade”. Ele diz que o jornal sim, passa por todo mundo, até o morador de rua pode vir a se informar através dele. O profissional também conta que lê vários jornais diariamente e garante que só usa os sites como auxiliares, quando fica com “alguma dúvida” a respeito do que leu. “O jornal impresso ainda é o mais importante, tem caráter oficial, tem mais credibilidade”, conclui João.
“Eu me informo nas duas mídias e não acho que uma substitua a outra”, afirma Joana Sousa, funcionária de uma farmácia do bairro Cidade Baixa, referindo-se à web e ao jornal tradicional. Já o seu gerente, Luiz Carlos, diz que, apesar de gostar de ler impressos, acredita que eles estejam com os dias contados. “Acho que vai acabar ficando só a informática”, comenta o farmacêutico.
O Jornal do Povo, de Cachoeira de Sul, tem um projeto chamado “JP na Sala de Aula”, no qual os professores da rede municipal levam jornais à escola, para que cada aluno recorte a notícia que mais o chamou atenção e comente. Seria mais educativo selecionar e imprimir? Mandar por e-mail para a professora o texto escolhido e o comentário acrescentaria ao aprendizado?
Para finalizar, conversamos com Darci Marcelo, portoalegrense que está passando vinte dias em Passo Fundo, a trabalho. Ele assina a Zero Hora e está sentindo falta da sua leitura diária. Inclusive, ligou para seu sobrinho, há poucos dias, solicitando que ele guardasse a página da coluna de Paulo Sant`ana, que acabara de ler no site. “Quero guardar para ler várias vezes, tenho uma pasta cheia de recortes há mais de vinte anos”, conta orgulhoso. Ele termina falando que “não teria a mesma graça” imprimir o texto do site.
Essas são somente algumas poucas provas da força do impresso. Atenção, comunicadores. Para enxergarmos, precisamos observar algo fora do nosso “mundinho pós-moderno” de iPads, iPods e iPhones. O nosso objeto de estudo e discussão deve ser menos a tecnologia do que o homem, menos a máquina do que aquele que a controla e a fabrica. Enquanto a tecnologia aumenta e nós a estudamos, há muitos brasileiros que não sabem ler, independentemente de onde esteja escrito. Existe mundo além da FAMECOS e das salas de aula bem equipadas e com ar condicionado. Existem menos pessoas que leem notícias no celular com aplicativos avançadíssimos do que seres humanos “normais”, assinantes da Zero Hora ou do Correio do Povo, acostumados a ler pela manhã e seguir a leitura, à noite, esgotados, após mais um dia difícil de esforço físico e mental.