quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Pessoas "comuns" garantem futuro do impresso


Nós, profissionais da comunicação, precisamos agir com muito esmero quando tratamos de assuntos que envolvem um grande público. Temos a obrigação de tentar pensar além da nossa realidade; entender que a maioria esmagadora das pessoas ainda não têm acesso aos nossos tablets, iPhones, etc.
Quando o professor diz em aula que a Zero Hora não traz nada na versão impressa que ainda não tenha sido noticiado no site no dia anterior, deixa entendido que o jornal tradicional está perdendo a utilidade. Dessa forma, ele está esquecendo de pessoas como Scheila Gonçalves, caixa de uma conhecida rede de supermercados da região central de Porto Alegre. Ela trabalha das 13h30 às 22h30 e conta que tem como única forma de informação os jornais disponíveis no refeitório, durante seu intervalo. A moça só tem acesso a internet na casa de amigas, além de só conseguir fazer visitas no dia da sua folga semanal e aproveitar a oportunidade para atualizar seu facebook e seu orkut, em vez de acessar sites jornalísticos.
João Batista, porteiro noturmo de um grande condomínio do centro da cidade, atuando das 18h às 6h, afirma: “por mais que digam, hoje em dia, que todo mundo tem internet, isso não é verdade”. Ele diz que o jornal sim, passa por todo mundo, até o morador de rua pode vir a se informar através dele. O profissional também conta que lê vários jornais diariamente e garante que só usa os sites como auxiliares, quando fica com “alguma dúvida” a respeito do que leu. “O jornal impresso ainda é o mais importante, tem caráter oficial, tem mais credibilidade”, conclui João.
“Eu me informo nas duas mídias e não acho que uma substitua a outra”, afirma Joana Sousa, funcionária de uma farmácia do bairro Cidade Baixa, referindo-se à web e ao jornal tradicional. Já o seu gerente, Luiz Carlos, diz que, apesar de gostar de ler impressos, acredita que eles estejam com os dias contados. “Acho que vai acabar ficando só a informática”, comenta o farmacêutico.
O Jornal do Povo, de Cachoeira de Sul, tem um projeto chamado “JP na Sala de Aula”, no qual os professores da rede municipal levam jornais à escola, para que cada aluno recorte a notícia que mais o chamou atenção e comente. Seria mais educativo selecionar e imprimir? Mandar por e-mail para a professora o texto escolhido e o comentário acrescentaria ao aprendizado?
Para finalizar, conversamos com Darci Marcelo, portoalegrense que está passando vinte dias em Passo Fundo, a trabalho. Ele assina a Zero Hora e está sentindo falta da sua leitura diária. Inclusive, ligou para seu sobrinho, há poucos dias, solicitando que ele guardasse a página da coluna de Paulo Sant`ana, que acabara de ler no site. “Quero guardar para ler várias vezes, tenho uma pasta cheia de recortes há mais de vinte anos”, conta orgulhoso. Ele termina falando que “não teria a mesma graça” imprimir o texto do site.
Essas são somente algumas poucas provas da força do impresso. Atenção, comunicadores. Para enxergarmos, precisamos observar algo fora do nosso “mundinho pós-moderno” de iPads, iPods e iPhones. O nosso objeto de estudo e discussão deve ser menos a tecnologia do que o homem, menos a máquina do que aquele que a controla e a fabrica. Enquanto a tecnologia aumenta e nós a estudamos, há muitos brasileiros que não sabem ler, independentemente de onde esteja escrito. Existe mundo além da FAMECOS e das salas de aula bem equipadas e com ar condicionado. Existem menos pessoas que leem notícias no celular com aplicativos avançadíssimos do que seres humanos “normais”, assinantes da Zero Hora ou do Correio do Povo, acostumados a ler pela manhã e seguir a leitura, à noite, esgotados, após mais um dia difícil de esforço físico e mental.

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