segunda-feira, 11 de março de 2013

Ousadia

--> "And in the end, the love you take is equal to the love you make", Paul McCartney

Essa frase da música “The End”, dos Beatles, o maior nome da música no século XX, me faz lembrar de algo que eu penso há muito tempo. O amor que recebemos será, no fim das contas, exatamente igual ao que damos. A bala que me foi recusada na infância por um amigo foi negada a ele alguns dias depois. Pais separados e ricos ou pobres e unidos? Quem teve pobres e separados certamente nasceu com uma força maior ou será recompensado com um emprego bom, com ótimos amigos ou terá irmãos que ajudarão a “pegar junto”. A infelicidade é dividida por um mundo cuja perfeição é incompreensível para nós, pobres humanos.
Evoluindo no tema, acho que a vida é exatamente igual com todo mundo, excluindo as pessoas às margens da sociedade, é claro. A respeito dessas, ainda quero conversar olho no olho com o Ser que criou esse mundo e nos “jogou” dentro. Exatamente por isso, acho que aquele conteúdo lido, mas não usado na prova, um dia nos será útil. A pessoa que ajudamos, o amigo que carregamos nas horas difíceis, o sorriso não correspondido, a gentileza que recebeu uma resposta fria. Aquelas pessoas que agradamos, que amamos, mas pelas quais somos ignorados, serão rejeitadas por alguém. Nós seremos brindados pela simpatia grátis de um desconhecido. “Who ever you are, I’ve always depended on kindness of strangers”.
Se eu me esforçar para fazer algo bom, para ajudar as pessoas, vou me cansar fisicamente, me estressar e a minha recompensa será proporcional a essa dedicação. Se eu não fizer nada de bom, nem de ruim, nada de bom nem de ruim me acontecerá. Quem fica todos os dias em casa assistindo televisão acabará a vida em casa assistindo televisão. E, consequentemente, se prejudicar alguém, o prazer que essa atitude me deu será equivalente ao meu sofrimento depois. Tudo isso depende de escolha. Em nenhum momento julgo as escolhas sobre as quais discuto aqui, uma vez que todas dependem de opção pessoal.
Quem começou a trabalhar com 16 anos, vai viver mais para curtir a aposentadoria ou gozar de grandes e confortáveis férias durante a vida. Quem morre jovem em um acidente de trânsito por estar correndo, é porque já sentiu toda emoção que a maioria das pessoas levam décadas para viver. Aquele que se conforma com alimentação saudável, que dorme e acorda cedo, não corre de carro, não bebe, não fuma, não briga e não mantêm atividades que podem matar, é porque consegue ter apego à rotina. Logo, merece viver cem anos dessa forma. E os outros, morrerão jovens, mas terão, de fato, vivido o mesmo que os primeiros. Porém, com maior intensidade e em um menor espaço de tempo.
Temos incontáveis exemplos de pessoas que preferiram viver intensamente a morrerem velhos. Se o Jim Morrison não tivesse aquela ânsia por emoção, hoje estaria de pantufas desfrutando dos seus milhões, mas não teria apagado seu fogo. Apagou, morreu aos 27. Conta-se que Elvis Presley comia bacon todas as manhãs. Se ele se contentasse com maçãs, poderia estar vivendo até hoje. Mas será que valeria a pena? Ele achou que não. No rock’n roll, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Sid Vicious e Cazuza também são ótimos exemplos.
Raul Seixas viveu da sua música, o que também pode ser extremamente emocionante enquanto se consegue fazer shows quase todos os dias, participar de programas de televisão, ser reconhecido na rua. Na década de 80, o fabuloso disco "Abre-te Sésamo" não foi compreendido pelo grande público e Raul passou a beber todos os dias, inclusive pela manhã. "Afundou-se" no consumo de álcool, pois não aceitou viver sob a pesada mão da rotina. Faleceria em 1989, aos 44 anos. Com meia idade e alguns momentos com muitas emoções, outros com menos. Mais uma prova da teoria.
Quem estuda, passa no vestibular, no concurso. Se não, poderá utilizar esse conhecimento para conquistar uma pessoa, para fazer um amigo, para ganhar um prêmio em algum jogo no estilo do antigo Show do Milhão. Em algum momento, o mundo o recompensará. Nenhum esforço será em vão. O chocolate roubado por uma criança pode ser "devolvido" em forma de um banho de chuva na volta para casa, após um duro dia de trabalho, 30 anos depois. O corpo também recebe tudo de volta. Eu, por exemplo, me atirava de joelhos no chão de cima de uma escada de três degraus. Atualmente, sinto dores neles de vez em quando.
Existem mais dezenas de exemplos, mas a demonstração está feita. É nisso que eu acredito. Portanto, o rico, bonito e de boa família chegará ao fim da vida tão infeliz quanto o pobre, feio e sem família, porque tudo acabará empatado. É por esse pensamento que muitas vezes acabo sendo um tanto quanto acomodado. Às vezes, me dedico muito para ter sucesso em alguma empreitada, mas, no fim das contas, ela acaba me trazendo a mesma satisfação que muitas vezes tenho sem mover um dedo. Mas quando dá certo sem esforço, pode ser devido ao meu ótimo comportamento na infância. E quando dá errado, talvez tenha sido por eu ter atrapalhado o sono da vizinha com minha música alta.

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